quarta-feira, 5 de novembro de 2008

O Relógio

Nem sempre preciso de te ver, porque o amor que cega e ensurdece também mostra coisas que mais ninguém vê e eu vejo-te a trabalhar, a olhar para o relógio, a ver as horas a passar e a contar os minutos que faltam para que te abram o vidro do mostrador e resgates a tua liberdade, e depois vejo-te a entrar no carro e a abrir a janela, respirando fundo o ar que te traz até mim, anunciando na brisa mais inesperada o teu regresso a casa.

Por isso não corras, não te apresses, não partas o vidro do mostrador antes da hora, não te entristeças com a distância nem sintas pena de mim por te esperar tanto, porque o tempo é sempre pouco quando sei que estás próximo, os dias bons são os que te trazem até mim e todos os dias me trazem sempre algo de ti.Às vezes interrogo-me onde vou buscar tanta serenidade na espera, como é que ainda acredito que posso cruzar a realidade com a perfeição, de onde vem toda esta luz que me transforma num farol e faz com que chegues sempre são e salvo, sem nunca, por uma vez que seja, te enganares no caminho. É que o amor, que às vezes também se engana, há outras em que acerta sem precisar do relógio, e quem sabe se nós não acertámos no tempo, no espaço e no modo, como fazem os nossos corações quando me encostas à parede e eu vejo tempo parar, suspenso num eternidade só nossa que me faz pensar que afinal valeu a pena esperar tanto tempo por ti. Por isso a espera é quase nada e quase tudo, é a tua imagem no ar, a tua luz no escuro, um fio firme e esticado que me vai guiando pela vida. A espera é só o tempo de deixar crescer aquilo que há de ser. E é sempre pouco, quando se tem tanto para dar e receber.

[ És sim TUDO]



Bater de um «3 *

Voltei ao parque, descalça. Com vontade de receber sol e ver a relva, os olhos espalhados pela imensidão de verde.Fiquei com o livro fechado sobre o regaço e o leitor de música na mochila, a inspirar a felicidade das pessoas. Havia a avó super protectora a dizer aos netos que não podiam sair do jardim, os casais que namoravam, as pessoas que estavam só por estar, os que liam e os que tentavam ler, os que jogavam futebol, os que passavam, por fazer o parque parte do seu caminho.O casal com a criança de um ano que começava a conseguir pôr as pernas, uma à frente da outra, nos primeiros arremedos de passos. E caía na relva e voltava levantar-se e ria-se e voltava a tentar pôr os pés um à frente do outro. Os pais deleitavam-se com a menina que ria e levantava o vestido e se levantava do chão; disputava o casal o amor da filha, que sem saber, já era objecto de discórdia. Com visível amor, o pais queriam que a filha gostasse mais de um do que de outro; faziam esse ritual de auto-segurança sem darem bem conta do que estavam a fazer. E pensar que havia tanto amor. Porque a mãe luta pela criança com as mamadas, com a relação umbilical. O pai recupera agora o tempo perdido, disputa a filha com cócegas e mimos, com histórias de adormecer e um biberão de leite morno. Como a disputará com uma nota de vinte euros dada à socapa nas primeiras saídas nocturnas.Mas o casal é feliz na doce disputa do amor. O amor entre eles já não interessa, interessa sim o amor da filha, porque esse existirá enquanto a vida existir.Do parque não guardo só as memórias da tarde, as imagens que recolhi das pessoas, os movimentos e os gestos. Guardei também todos os outros parques em que estive, em que partilhei e dos quais agora me despeço. Não que agora tenha deixado de ir para os parques, agora despeço-me deles porque os encaro numa perspectiva diferente, muito diferente. Não sinto a mesma vontade de ir partilhar segredos e beijos: porque agora vou sozinha. E não é igual, não é mesmo nada igual.Mas a despedida não implica ausência, vou continuar a ler nos parques, a observar as pessoas.Porque se continua a partilhar a mesma ternura, o mesmo olhar ansioso de outro amasso, o mesmo segredo dito em voz muito baixa, quase imperceptível, o sussurro que se transformou em beijo. À distância de muitos quilómetros. À proximidade de um bater de coração.


[Á vida]

A Olhar por ti e para ti .

Estranhamente acordo sem saber onde estar. Olho em volta e nada me é familiar. Estarei eu num Mundo á parte? Paralelo ao que me suga a alma? Por mais coisas que m venham á ideia nada é comparável ao que se encontra onde me situo. De repente sinto um arrepio, uma sensação estranha! Sim, é isso, o teu perfume, o cheiro que me persegue. Volto a entrar no mecanismo do tal relógio complexo, complicado este, o mais que conheço. O amor é tão persistente, que até aqui onde não sei a minha missão me persegue. Corrói as veias e as entranhas mais escondidas de mim. É difícil. Saiu disparada, a correr, por caminhos que nunca antes percorri. Sem querer, olho para o lado, e vejo bem paralelo a mim, uma imagem semelhante á minha, também a correr, mas desta vez por caminhos meus conhecidos. Vejo-me, sim sou eu, na vida que conheço, naquele meu mundo. A imagem não pára, resolvo sentar-me e ver o que sucede. Encontro uma pedra e sento-me, vejo o inacreditável. Sou eu que estou perdida, numa vida com pouco sentido. Corro á procura dele, respiro e inspiro por ele. Uma vida preenchida por um ele. Vejo que a minha vida é completamente massacrada por um medo. Medo de tudo, desde o mais pequeno ao maior pormenor. E sempre que olho para ti o medo cresce, ficando insustentável. Prende-me. Luto, mas em vão.
Tudo parou. A imagem agora é precisamente simétrica dos lados. Estou em dois mundos, com a mesma dor, com o mesmo arrepio, com a mesma vontade de chorar. Sem dúvida, não és a dádiva que esperei e pensei! Ao contrário és tu o medo. És tu quem não consigo alcançar. Mas por quem eu esperei, espero e passo o dia-a-dia a esperar… Acordei. Estava mesmo aqui ao lado, com as mesmas almofadas e o mesmo pijama com que adormeci e sonhei. Não passou de um sonho a minha visita àquele cenário, onde pode ver o que sou e o que sinto, melhor duque no espelho. Não vi nada que me surpreende-se, vi-te a ti. Minha alma e coração está preenchida sua maior parte por ti. Que fazer? Nada…

A olhar para ti ! E por ti !

[D]

Sinto :$

Sinto-me tão estranha! Quando penso em ti fico desanimada. Sinto o meu <3 muito apertadinho e uma vontade de chorar imensa. Para ela ir embora agarro-me com a maior força do mundo àquilo a que eu considero terem sido os “nossos momentos mais felizes”. Mas aí chega a saudade. E vai invadindo, pouco a pouco, a parte mais importante de mim, onde tu estás. De novo ela fica cheiinha. Parece que todo o meu <3 não vai aguentar e vai rebentar a qualquer instante de tão amachucado que fica! Tento pensar rapidamente noutra coisa sem ser em ti, mas para além de me encheres todo o <3, ocupas-me também a cabeça. Tento raciocinar. Tento encaixar-me na realidade e conformar-me com a ideia de que nunca te vou ter verdadeiramente mas quando o faço vem a sensação de arrependimento. Arrependimento de não ter gostado de ti no tempo certo, quando supostamente devia ter sentido. Depois é a vez da frustração, de não ter sido capaz de me deixar levar quando me tentaste fazer sentir-me desejada e eu recusei. Por não ter sido capaz de te dar uma única oportunidade para me mostrares aquilo que eu tenho tanta dificuldade em expressar: sentimentos. A culpa, esse sentimento feio e pesado, persegue-me por te querer tanto ao ponto de ser egoísta. A revolta de não ter a força suficiente necessária para pôr a mão no nosso globo e girá-lo no sentido contrário, consome-me. Dia após dia. E vou perdendo-te para o resto do mundo um bocadinho de cada vez que o ponteiro maior se mexe no meu relógio adiantado. Vou (sobre)vivendo, tentando arrancar a pilha do mais complexo relógio de pulso. Não o faço na esperança de conseguir com que os ponteiros rodem no sentido inverso, mas sim com o objectivo de os fazer parar por completo; de o relógio ficar sem utilidade ao ponto de me dar vontade de o desapertar do meu pulso e nunca mais voltar a usá-lo.


[23:33]