quarta-feira, 5 de novembro de 2008

O Relógio

Nem sempre preciso de te ver, porque o amor que cega e ensurdece também mostra coisas que mais ninguém vê e eu vejo-te a trabalhar, a olhar para o relógio, a ver as horas a passar e a contar os minutos que faltam para que te abram o vidro do mostrador e resgates a tua liberdade, e depois vejo-te a entrar no carro e a abrir a janela, respirando fundo o ar que te traz até mim, anunciando na brisa mais inesperada o teu regresso a casa.

Por isso não corras, não te apresses, não partas o vidro do mostrador antes da hora, não te entristeças com a distância nem sintas pena de mim por te esperar tanto, porque o tempo é sempre pouco quando sei que estás próximo, os dias bons são os que te trazem até mim e todos os dias me trazem sempre algo de ti.Às vezes interrogo-me onde vou buscar tanta serenidade na espera, como é que ainda acredito que posso cruzar a realidade com a perfeição, de onde vem toda esta luz que me transforma num farol e faz com que chegues sempre são e salvo, sem nunca, por uma vez que seja, te enganares no caminho. É que o amor, que às vezes também se engana, há outras em que acerta sem precisar do relógio, e quem sabe se nós não acertámos no tempo, no espaço e no modo, como fazem os nossos corações quando me encostas à parede e eu vejo tempo parar, suspenso num eternidade só nossa que me faz pensar que afinal valeu a pena esperar tanto tempo por ti. Por isso a espera é quase nada e quase tudo, é a tua imagem no ar, a tua luz no escuro, um fio firme e esticado que me vai guiando pela vida. A espera é só o tempo de deixar crescer aquilo que há de ser. E é sempre pouco, quando se tem tanto para dar e receber.

[ És sim TUDO]



1 comentário:

Beatriz disse...

Sabes que A Sorte viaja viaja , mas volta , eu acredito que sim .

Sorte